Tema da redação Fuvest 2010 – 2ª fase
“O mundo por imagens”
Criar modelos sobre a realidade é uma característica marcante da Cultura. Só o homem é capaz de padronizar o pensamento, cultivar mitos acerca de personalidades, protótipos capazes de enquadrar o ser humano na sociedade. E a Literatura busca, por meio de “personas”, representar os arquétipos humanos, criticar estereótipos e discutir como interferem nas relações sociais.
A personalidade humana é difícil de ser desvendada ou compreendida. Muito do que o homem oculta, tacitamente, mostra uma personalidade dicotômica, multifacetada. Há uma “máscara” que se apresenta conscientemente, ou seja, é apenas uma primeira camada, tênue, do que pode retratar o ser humano.
É conflituosa a relação do sujeito com o objeto. Tende-se a olhar a realidade com olhos mecânicos, que buscam apenas retratar, através de teses e experimentos, a completude daquilo que é observado. Esquecemos que olhar a realidade implica metaforizar o meio; entender que não há um preceito que expressa a certeza de que “o céu é azul”. O olhar precisa ser louco, isto é, brincar com a realidade que é observada e modificá-la, deixando de prender-se apenas aos modelos fornecidos.
Essa mudança de visão diante do mundo é a que pode ser observada em algumas obras literárias tal qual Dom Casmurro, de Machado de Assis. A imagem de Capitu que é apresentada ao leitor se mantém dinâmica. A característica dela são os “olhos de ressaca”, com um fluido misterioso porque possui em si a ambigüidade humana e a metáfora pela qual o sujeito deve contemplar o mundo, como um mar em ressaca, conflituoso; esse mar não pode se estabilizar excessivamente diante das representações criadas para explicar o mundo que está fora da janela.
A dicotomia humana precisa ser compreendida. Criar estereótipos é mecanizar o olhar nas relações sociais. Imagens são emprestadas para compor modelos, mas precisam encarar a mudança. Apegar-se somente a essas imagens leva à deterioração as características fascinantes do ser humano: a capacidade de produzir metáforas e questionar, por meio dessa “poesia do olhar”, a realidade que está no horizonte.
Citar o ser humano como um ser cultural é sempre uma questão dúbia: é você fazer crer que nós não somos resultado de um processo evolutivo, mas sim somos o resultado de algo mais além (talvez o famoso “Adão e Eva”). Lendo seu texto, pude perceber que você vê o ser humano como um ser cultural, correto? Enfim, eu sou totalmente contra essa idéia. Mesmo assim, é um bom texto. 😀
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