Sou construída por saudade. Nostalgia. Pelo que ocorreu, pelo que sonhei um dia e pelo que nunca terei a possibilidade de vivenciar. O dito passado de outras gerações que, hoje, só é contado a mim por livros e imagens. A memória limitada e a necessidade de guardar tudo o que foi especial se faz presente em diversos momentos. Lembro que esqueço algumas sensações passadas, e isso traz frustrações, claro. Elas permeiam meu pensamento. Mas, de tão fugazes, mostram-se semelhantes aos sonhos que coloco em dúvida. O paradoxo de nossa existência está nesse lembrar-esquecer. Relato o que lembrei e, em seguida, esqueço.
Se a memória é uma grande característica humana, é evidente que ela pode nos enganar. Invento ficções para a minha vida e isso é inevitável. O super-herói que desejamos ser cede o lugar para o profissional bem sucedido. As manias de nossos pais ganham pinceladas de dramaticidade quando as observamos com a peculiaridade de nosso olhar. Escolhemos os heróis (e os vilões também) que nos inspiram por meio da Literatura e do Cinema. O que denominamos como realidade é permeada por criações, diariamente. Idealizo algo para mim e para o outro e, assim, costuro ficções. Juízos fazem parte da maneira com que escrevo os personagens do cotidiano. E eu não fujo dessa pena que seguro. Mas há um detalhe: o fato de criar ficções para nós mesmos não quer dizer que estejamos imersos na pura mentira. Afinal, se a nossa memória é tão aberta ao lembrar e ao esquecer, podemos ver o nosso passado como uma comédia ou um filme musical. É como dar um encanto distinto ao que parece extremamente comum.
E a saudade não está muito longe do que é criado pela memória. A distância de alguém, momentos vividos existem concretamente. Porém, a forma com que os contemplo é criação minha. Tento resgatar eventos, repasso-os mais uma vez pela mente. Renovo o que outrora foi apenas um momento. Agora ele é interminável. E a saudade é uma reflexão sobre o que temo esquecer; é a memória que me acompanha na tarefa de apanhar pedaços de fatos e ideias, juntando-as, talvez sem nenhuma ordem. Um mundo à parte criado por mim. Personagens que vejo por aí, outros imaginados por escritores, artistas. As realidades criadas são paletas de cores misturadas a cada olhar que direciono para o cotidiano. O que você vê quando resolve enquadrar a realidade? Escolho o que destacar nessa pintura diária, imersa na saudade e ganho uma memória reinventada.
Marina, seu texto é lindo e emocionante! Você já demonstra um certo exercício filosófico nas suas reflexões.
Parabéns! Mantenha a inspiração sempre!
Renata
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Muito bom, Mari. Adorei esse texto. Continue escrevendo. ^^
Bjus!
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Isso é viver constantemente com um pé no passado, talvez usando-o de exemplo no presente para nos impulsionar para o futuro. O que temos que tomar cuidado é não ficar preso no passado e viver de saudade. Muito bom o texto! 🙂
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Nostalgia é a palavra que me resume também, todos os dias, todos os momentos. Vi em seu texto algo que gostaria de ter escrito, mas nunca consegui me expressar assim, simplesmente lindo!
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