O transpassar pela renda
De sonhos ando farta,
A cada noite um cenário distinto.
Já não sei mais o que fazer.
Ah, esta noite foi um corvo que surgiu!
Ecoava ‘nunca mais’ em meu ouvido…
Acho que é Poe avisando que minha vida é finita,
Meu semestre é finito,
Que os livros não lidos
Perseguir-me-ão pela consciência.
E talvez nunca mais poderei recuperá-los.
Títulos dispersos,
Em aulas e pedaços de papéis,
Promessas espalhadas por aí.
Conhecimento deixado em banho-maria,
Retornará a mim em algum dia?
Bom, pode ser apenas esses mesmos livros,
Conduzindo-me ao passado até em sonhos.
Ao século dezenove tenho voltado,
Envolvendo-me em vestido adornado,
Pela renda, pelo passado, pela modernidade.
Renda essa que, por entre seu tecido vazado,
Visualizo o ideal de uma época nunca vista.
Ah, meus olhos não contemplaram esse passado,
Como saber, pois, se é real?
O corvo é mais um indício de um passado
Que não me pertence mais.
Um passado apenas ao alcance do sonho e das páginas…
De um poeta atormentado pelo seu presente,
Tão incerto entre o não-mais e o não-ainda!
É esse o passado-presente
Repousando acima da lareira, ameaçador,
Já brando na sua fantasmagoria
De passado e sonho.
Lareira com o fogo de um devir perdido,
Ideais misturados em um circular do mundo.
Ele volta à mesma forma? Nunca mais.
O começo está muito intenso, digno de Poe! Você captou bem a intensidade do terror que o corvo passa ao eu-lírico nesse poema. Muito bom!
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Você fica concentrada no seu mundo, com seus pensamentos e esse é o resultado: um lindo poema!!!
Você diz que seus olhos não contemplaram esse passado, mas sei que quando você lê, se transporta para o passado e com sua sensibilidade sente como se estivesse lá.
Por isso o conhecimento fica em banho-maria e quando você precisar ele acordará.
Os livros sempre estarão lá te aguardando. Sempre haverá tempo para a leitura.
Parabéns!!!
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