Direção: James Marsh
Com Eddie Redmayne, Felicity Jones, Tom Prior
Indicado a cinco categorias do Oscar 2015: Melhor ator (Eddie Redmayne), Melhor filme, Melhor atriz (Felicity Jones), Melhor trilha sonora, Melhor roteiro adaptado.
Dois anos de expectativa de vida. E Stephen Hawking continua à ativa aos 72 anos. Esta é a resposta que o filme concede antes mesmo de se iniciar nas telas. Diferente de uma obra que expõe o trabalho científico de Hawking, Teoria de Tudo apresenta, baseando-se nas memórias de Jane Hawking, sua esposa, a vida deste físico em formação que aos 21 anos descobre ter uma doença motora degenerativa.
O peso da vivência de Hawking por si só permeia com força a narrativa do filme. Uma pessoa que deseja preservar e resistir pelas ideias às dificuldades e limitações que a doença gera é humanamente heroica. Mas vale ressaltar também que quem cresce à altura de Hawking é sua esposa, Jane, que não hesita em se casar e cuidar de Stephen apesar do desafio incomensurável que cabe às exigências dadas a ela como esposa, mãe, pesquisadora em Literatura e companhia imprescindível de Hawking em meio à doença.
O amor entre eles, sem repetir-se em discursos, mas sim pelos gestos, é de uma beleza singular. O espectador encontra a dificuldade de se posicionar entre o desejo por ver Jane ter suas próprias vivências – desde um instante de tranquilidade até finalizar sua tese em Poesia Medieval – e entender a necessidade de tê-la como apoio de Hawking. Vemos uma relação que não se perde em dramas pequenos entre um casal, mas sim a maturidade de lidar com decisões complexas. E, acima de tudo, reconhecer que os limites humanos são um verdadeiro mistério.
Teoria de tudo acaba por não se aprofundar no trabalho científico de Hawking. É verdade que poderia ter trazido à tona juntamente a dimensão de sua pesquisa na área acadêmica. Mas em parte é compreensível que isso não ocorra em um filme que retrata mais sua vida pessoal pela óptica de Jane, baseando-se em suas memórias escritas. Se isso poderia ser arriscado, gerando um filme emotivo e parcial demais, não ocorre com Teoria de Tudo. O receio inicial, pelo trailer divulgado, é que tivesse sido produzido com o único intuito de competir pelas categorias do Oscar em uma cinebiografia feita para chorar. O que ocorre, porém, é que o espectador encontra um filme emotivo na medida certa. Emociona pela narrativa real de Hawking e a força e admiração que passamos a ter pela figura até então desconhecida de Jane. Contudo, vale dizer aqui que não significa que o filme aplique a frase “por trás de um grande homem há uma grande mulher”. Felizmente, Teoria de Tudo expõe que existe uma cumplicidade igual entre os dois, e que Jane é grandiosa por si mesma.
Em relação à montagem técnica do filme, ela é bem coesa. No caso, porém, da trilha sonora, ela não apresenta sobressaltos interessantes na composição. Se em Jogo da Imitação, O Grande Hotel Budapeste, alguns de seus concorrentes à categoria no Oscar, vemos um trabalho exato e detalhado de composições complexas e belas, Teoria de Tudo perde e muito neste quesito, com um único ritmo tocado ao piano que não se sobressai na totalidade. Mas quanto à fotografia, ela é fortemente bem explorada no filme. Seu trabalho concede um teor mágico e delicado à trama, o que ajuda a entender como é, por fim, poética e intensa a visão de um físico diante da tentativa de encontrar uma “simples e elegante” equação para o Universo. Isso fornece a curiosa sensação de ver que, apesar de Hawking lidar com o estudo de algo fundamental a toda a existência humana, esta se encontra valorizada nos pequenos instantes vividos na Terra, nos pequenos milagres ocasionados pelos humanos.
Ademais, a grandiosidade de Hawking é alcançada pela atuação de Eddie Redmayne com um cuidado quase científico nos gestos, expressões, dicção apreendidos para dar vida a esta figura. O ator dá espaço ao personagem e, pelo olhar, passamos a tentar desvendar o que Hawking sente ao contemplar os outros, rimos do humor dele, acompanhamos a sua comunicação.
Se falta apenas à Teoria de Tudo dar espaço ao trabalho do físico, o filme ganha pela seriedade com que expõe detalhes da vida de Hawking. É uma vivência que precisava estar nos cinemas e desperta o interesse pela leitura das memórias de Jane ou Uma breve história do tempo, de Hawking. O mérito de Teoria de Tudo é, assim, a capacidade de manter exposto o humor e a emoção em boa dose por todo o seu filme e o espectador terminá-lo com a vontade de ver mais de Hawking e Jane. Está posto, então, o encanto de presenciar uma vida que, desde o início dos tempos de Hawking, teve como equação única uma cumplicidade tão simples, bela e elegante quanto à procura pela teoria acerca do Universo.
Super resenha. Acho que ela, a essa altura, é ex, confere?
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