Meu blog completou 6 anos em novembro e, com toda a correria, eu esqueci. Orgulho deste espacinho que cultivo desde os 16 anos. Então aqui está meu poema Em valsa eu avanço. Escrevi nos dias posteriores ao atentado em Paris e encontrei algum abrigo ao escrevê-lo. Mas ontem, quando o reli, acabou se encaixando perfeitamente com a figura da escultura La valse, de Camille Claudel. Acho que a poesia é esta morada das nossas mais diversas sensações.
Em valsa eu avanço,
Presa em tecidos
Quero voltar,
E me desfazer,
Só para te dizer
Em choros
Que os lenços vêm
Em papel unido
Para em ti,
Sobreviver.
Tocam a face,
Misturam-se à pérola
Aos pós encharcados
De olhos cansados.
Que avançam
E recuam,
Num compasso sem fim.
Em cílios molhados
Para uma dança
Que a vida impede
De parar.
Os passos desferem
Golpes ao chão
Para penetrar
O desespero atroz
Deixado no vão,
De lágrimas
De outrora.
Quando cidadãos
Ao chão se dirigem
Sem mais vida
Que bate em sustenido,
Resta a sobrevivência
Desses passos sombrios
Que valsam
Desequilibrados.
Um espetáculo
Que corre
Nos mais internos rios.
As águas de tenebrosas
Correntes humanas
Inundam o pavimento
E gotas poderosas, essas,
Ah, empurram-me!
Para mais uma dança
Que se segura
Numa existência
Que resiste ao esquecimento.
***Imagens: La valse (A valsa) – Camille Claudel
Tão bonito! Li pensando naquelas caixas de música piano com bailarinas. rs
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ai, Bianca, que bom que o poema deu a sensação de movimento, muito obrigada por comentar!
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