Procurei pelos mercados
Entre plásticos, pessoas e potes
Os vestígios de sabores perdidos
Da boca que prova o passado
E o devora guardando
No mais interior profundo
As memórias digeridas.
Elas aguardam,
Para em choque retornar
Na forma de cereja vermelha
Que minha mãe segura entre as mãos.
Juntas escolhemos,
Em busca infantil,
Em comunhão de mãos que pesquisam
A pequena ambrosia
Em vinho lustrado.
Como dói ver aquelas vermelhas
Quase pretas,
Ostensivas em suco e doçura.
Os dedos cavam entre as manchas
Na busca das mais maduras
Mas o caminho mistura os dedos,
Em carne e vermelho
E eis que se convocam as memórias
De infanta vontade
De provar a pequenina.
A preciosa cereja,
Que antes era breve frutinha,
Mas que agora ganha ares
De grande simbologia,
De uma comunhão guardada pelo tempo
Grandioso e atemporal.
De cereja que veste o Natal
Em vinho resplandecente
Que compõe, ao fim,
O grande pavilhão brilhante
De minhas memórias, vivas, enfim.
Minha nossa, que que que que sem palavras. Emocionante, emocionante.
CurtirCurtir