créditos: Lauro Alves / Agência RBS. Zero Hora Abri os jornais na manhã de segunda e lá vi A falsa liberdade em trajes de fascismo Decaída dos infernos, enfim. Acertada pela lança do vento, Mãos leves d'uma heroína invisível. Fadas, talvez? Mas então lembrei: com Dylan aniversariante Neste dia de ventos triunfantes, Pois bem, a… Continuar lendo Dia de ventos triunfantes
Categoria: poemas
Versos de Hilda Hilst sobre descanso
DO AMOR CONTENTE E MUITO DESCONTENTE 9Tenho pedido a todos que descansemDe tudo o que cansa e mortifica:O amor, a fome, o átomo, o câncer.Tudo vem a tempo no seu tempo.Tenho pedido às crianças mais sossegoMenos riso e muita compreensão para o brinquedoO navio não é trem, o gato não é guizo. Quero sentar-me e… Continuar lendo Versos de Hilda Hilst sobre descanso
Vã e febril
Vivi um dia secular De ver van escolar Amarela em sonho floril Guardar os mortos De uma doença vã e febril. Poema escrito por mim baseado na notícia de que vans escolares vão funcionar como carro funerário na pandemia. E há quem ache que a situação não é de desesperar.
Ordem invertida
A quarentena me fez retomar a escrita de poesia, que não faço há dez anos. Escrevi Ordem invertida pensando na palavra como se fosse um feitiço, para que a gente encontre algum conforto na interioridade das casas. Deixo que elas cheguem Aquecidas do centro solar E repousem nas mãos Como passarinho que regressa Ao ninho… Continuar lendo Ordem invertida
Palavra é carne
Escrevi este poema inspirada pelo trabalho de Ferreira Gullar (1930-2016), neste dia melancólico pela morte do poeta. O gosto da tangerina de hoje é o amargo da morte. Ela desfalece em tristeza, Como fruta de cheiro longínquo Abandonado pelo poema numa sala de estar. Mas ela sobrevive incólume na palavra escrita. As peras se entristecem… Continuar lendo Palavra é carne
E ainda é meio-dia
O sol a pino anunciando a parcela De dia quase inesgotável De mais rotina vista da janela, De doçura inefável. E, veja só, ainda é meio-dia. Situado em tal eternidade, O sol promete inícios longínquos, O almoço é engolido com ansiedade, Das expectativas de sóis oblíquos. Mas já é meio-dia. Tempo esse que se consome em… Continuar lendo E ainda é meio-dia
Cité
Se pudesse deixar em seu chão Parte de minha pele, suor, Sangue e ossos, Deixaria aqui meu corpo, Para repousar, enfim, Toda vez que a rotina mata esperança. Na lembrança que você arrasta, Pelas suas cores, formas e gostos, Assim, fundaria, meu paraíso mental. Cidade cheia de morte renascida, Eu deixaria, em cada canto,… Continuar lendo Cité
Bebida consagrada
Hoje é o dia internacional da poesia! Deixo, então, aqui um poema que nasceu nos jardins de Renoir, em Montmartre, em um calor que colocava o inferno ao lado da Basílica de Sacré Coeur, mas que foi um dia mundano abençoado pelos sinos da basílica e um suco muito bem-vindo. As imagens são do jardim… Continuar lendo Bebida consagrada
Gesto ao céu
Alguns podem dizer que ele se ergue Em mais profunda fátua, Bela e pequena estátua No alto do Grand Palais. Seria ele dono do mundo Que fica na ponta do pé Porque sabe que sua mão de pedra Quase toca o mais azul brilhante céu. Mas sei que é um simples homenzinho, Que não é… Continuar lendo Gesto ao céu
Ambrosia
Procurei pelos mercados Entre plásticos, pessoas e potes Os vestígios de sabores perdidos Da boca que prova o passado E o devora guardando No mais interior profundo As memórias digeridas. Elas aguardam, Para em choque retornar Na forma de cereja vermelha Que minha mãe segura entre as mãos. Juntas escolhemos, Em busca infantil, Em… Continuar lendo Ambrosia